domingo, 15 de novembro de 2009

Encontro

"Nas comunidades africanas, nos terreiros as pessoas se reencontram com a real medida de suas potencialidades e tem aí a oportunidade de desenvolver-se em plenitude".

(Pierre Fatumbi Verger em "Notas Sobre o Culto aos Orixás e Voduns")

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

À fartura

Notava certa leveza
no seu caminhar
e de tão teimoso
era filho de Osóòsi.
(MB)

domingo, 18 de outubro de 2009

Festa do Ipeté

Mesmo distante de suas raízes que lhe fizeram sair da situação de botão
a flor resiste, viva, dentro do jarro, desde que a água seja limpa.

De pouco a pouco cada átomo de oxigênio é sugado pelo caule.
Devagar, as cores, o aroma e a vida,
persistentes, acabam.

Murchando, o belo fica feio (Ijimu!)
cabendo à água se deixar apodrecer.
Exceto, se lhe trazem novos ares
ou se o jarro é o rio.

E não é esta a história que contamos de Oxum?
Ora iê iê ô!
(MB)

domingo, 27 de setembro de 2009

Primavera Paulistana

Tenho estudado os corpos que atravessam as ruas, em câmera lenta, cada qual com sua sinuosidade.

Jovens desligados na multidão, suas mochilas, no walkman ou em grupos.

Homens com seus ternos e gravatas, apressados, de cinza ou preto, iguaiszinhos aos prédios e entre si.

Mulheres de vestidos. Tão suaves e finos tecidos, tão cheios de cores. Quando sobre o corpos nos permitem ver face, colo, braços e pernas, deixando seus quadris a nossa imaginação. Pernas brancas, negras, mulatas, nenhuma bronzeada, condenadas e presas por cerca de cinco meses dentro de calças e meia calças pelo inverno. Toda uma forma de indicar que o corpo quer respirar e, sem quererem, trazem consigo a primavera para São Paulo.

O corpo feminino é o nosso mais fiel calendário,
todos os outros se repetem mês após mês.
(MB)

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Pisando em ovos

Silêncio...

Me movo,
barulho.

De novo,
silêncio.

NADA,
às claras...
(MB)
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"Um passo à frente e você não está mais no mesmo lugar"
(Chico Science)

domingo, 23 de agosto de 2009

Iabás

Já tentei por
cheiros,
ouvidos, mas
agora sou somente olhos.

De longe sei
se combina
com meu santo:
Se formamos um belo casal
ou se teremos sucesso no orgasmo.

Essa forma de
pensar diferente
infecta, e
me deixa louco
para ver o mundo
com novos olhos: Fechados e rodando.
(MB)

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

À fertilidade das terras e da saúde

Discreto,
Fazi´arte para se distrair
Vivia entre palhas
Era filho de Omolu
(MB)

A scientia explica

Dona Maria Rezadeira
curava tudo,
era dor de dente,
unha encravada
e inchasso de borrachudo.

Certo dia, Vó Maria,
saiu do seu barraco
pegar arruda,
erva de cheiro
e jaborandi-do-mato.

Escorregou, bateu a cabeça e morreu de traumatismo craniano!
(MB)

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Quartinhas

Todo início
tem quartinha.
Seja cordel
ou candomblé.
(MB)

terça-feira, 2 de junho de 2009

Na esquina fez-se EXU!!!!

No Brasil, o marxismo adquiriu uma forma difusa, volatizada, atmosférica. É-se marxista sem estudar, sem pensar, sem ler, sem escrever, apenas respirando.

Hoje, o sujeito prefere que lhe xinguem a mãe e não o chamem de reacionário.

Hoje, o não-marxista sente-se marginalizado, uma espécie de leproso político, ideológico, cultural etc etc. Só um herói, ou um santo, ou um louco, ousaria confessar publicamente: — "Meus senhores e minhas senhoras, eu não sou marxista, nunca fui marxista. E mais: — considero os marxistas de minhas relações uns débeis mentais de babar na gravata".

Em muitos casos, a raiva contra o subdesenvolvimento é profissional. Uns morrem de fome, outros vivem dela, com generosa abundância.
Nelson Rodrigues

quinta-feira, 16 de abril de 2009

São, São Paulo

As paisagens paulistanas teimam em serem reconstruídas a cada momento como bem notou Lévi-Strauss ao ver na São Paulo uma cidade que nunca termina, sempre está em reconstrução.

Podemos fazer um paralelo desta transitoriedade com a concepção do fazer Graffiti. Grafiteiro sabe que sua “obra de arte” é transitória, efêmera e por si mesma com validade, a qual depois de um tempo ficará suja, por vezes recortada e por fim substituída no intensivo uso e desfruto das paisagens urbanas.

O grafiteiro dando seus rolês é escolhido pela paisagem para imprimir sobre ela seu trabalho. A cidade é seu ateliê e o público é parte de sua obra, seu espectador e seus criticos por excelência.


Na plataforma, sentido Luz, dentro da estação Lapa de trem uma mulher negra que provavelmente vai ao trabalho espera com angustia o trem que demora de 15 a 30 minutos, seu lanche ainda está morno e sua degustação é acompanhada por pequenos olhares atentos ao trem que parece demorar para chegar. A segunda é uma mãe zelosa que cuida de seu pequeno, pronto para o conjunto de aulas. Ambos não estão sozinhos pois o homem-cabeça-de-arvore assume o caráter de pai-projenitor-e-resgualdador-da-moral-e-da-familia atrás de sua esposa e filho, bem ali chumbado na parede por um artista plástico periferico. Ao fundo uma cena erótica, uma “senhorita” ruiva excitante a evidenciar sua beleza lombar para a metrópole as escuras. Esta paisagem não seria perfeita se todos não estivessem escutando a música de uma radiola antiga que provavelmente toca um vinil em inglês. Eu tocaria B. B. KING.

Planos globais e locais se confundem, o antigo e o novo coexistem de forma harmônica compondo uma beleza particular como o mesmo Lévi-Strauss apontou na São Paulo da década de 1930.

Com os extremos em Cástor e noutro Pólux, uma das multifacialidades da metrópole está aqui retratada, congelada e chorando – de alegria ou dor? - sobre o guarda chuva que simboliza a antiga terra da garoa.

Sendo território de tráfego, vivência e concepções tais paisagens operam como lugar, não-lugar ou espaço, oferecendo ao leitor da metrópole vida metamorfoseada em ódio, amor, angústia, esperança e tantos outros sentimentos que fluem por suas ruas, casas, estações e pontos de ônibus, enfim o cotidiano responsável por nossas impressões seletivas, de sua existência e dos próprios movimentos da metrópole.

Assim como foi empurrado o ANGELUS NOVUS da concepção de história em Walter Benjamin, algo nos dá esperança e nos empurra para frente tendo as mesmas características do zodiaco de Cástor e Pólux : A adaptabilidade e a versatilidade.

Agradecimentos:

Fotografia de Altocontraste (Casal Lygia e Lúcio) todos os direitos reservado aos autores desta obra prima. A fotografia está aqui por contrabando e gostaria da permissão destes dois que por hora está sendo impossível.

Graffiti de OZi - um dos melhores no assunto aqui em sampa – na estção de Trem Lapa. Mais deste gênio e dinossauro das tintas em: http://www.flickr.com/photos/graffitivivo/

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Vegetariando

Engordai com ideologias os bovinos
para na laje do puchadinho
sede do partido
termos um bom churrasco

sábado, 21 de março de 2009

Piazzas

Você tem a sensação de ser perseguido pelo destino?

Você já aprendeu algo ou começou a gostar e PÁ!!! Eis que surge aquilo novamente na sua frente em um outro lugar, com outras pessoas, num outro contexto.

Roberto Piva vem me perseguindo e surgiu desta vez nos braços de Raquel, minha irmãzinha ruiva que corta seu próprio cabelo.

"Oswald Spengler tem uma
porta no seu tornozelo
& nuvens através dele
limpando a pele
que projeta
um velho cachecol marrom
em seu olho
eu penso
pelos seus
líquidos compassos de sátiro
até
um cenário de músculos
impedido de esmagar
o carvão de
vidro
verde
que aquece
a estrela nua de
anteontem
Oswald Spengler tem uma porta no seu tornozelo
batendo
até
altas horas" (Piazzas, 1964)


Raquel! este é o poema que eu não lembrava.
Eis que surge aqui para vc.

Só Nelson

"Mas escuta: Eu estava no quarto com uma mulher e, nisso, chega o marido com a polícia. Em conclusão, arrombaram a porta. A mulher, nuazinha, negou até o fim. Sabe que o marido ficou na dúvida, o comissário ficou na dúvida e até eu fiquei na dúvida? Meu anjo, da próxima vez, nega, o golpe é negar!"

quarta-feira, 18 de março de 2009

Ibid Idem

Antes mesmo de ser xingado pela vizinhança e logo após reunir muitos trambolhos e cacarecos, durante os seus duvidosos 82 anos, o velho relega a família a culpa de sua dengue hemorrágica.