sábado, 13 de julho de 2013

Será mãe

Pra você, mãe dos meu filhos.
Que ao dormir fica presa na minha perna
e sente frio na barriga ao ver um dos sobrinhos chorar.

Sei que será a mãe dos meus filhos.
Se não desta, doutras vidas,
ou em algum momento de nossa pequena, eternidade.

(MB - Julho/2013)

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Pivavive

O pássaro no meio do coração da Tomie Ohtake,
que fica em frente ao MAC,
me fez lembrar dos tornozelos de Oswald Spengler.
Os quais eu só conheci através dos olhos de Piva em sua Piazza V.
Imagem que teima em viver na minha lembrança!
(MB - Outono 2013)

sábado, 16 de março de 2013

Viagem a Santa Catarina

O seu DNA cobre o chão e minha cama!
Sei pela quantidade de fios de cabelos espalhados pelo quarto,
os quais se perdem entre lençóis e meus pés. 

Pois permaneço sentado
e você já passou da portaria do meu prédio.

Pena você não voltar tão cedo,
tão rápido,
tanto quanto demora recolher todo este refugo genético.
(MB. 2013)

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Passageiras IV


poesia é a unica coisa que faço que seja pequena
a rima é algo doloroso
ou melhor
o sentido para se ter coesão de texto numa poesia é algo doloroso
quando começa a ficar grande, broxo!
prefiro a prosa mais extensa
poesia deveria ser tudo pequenina

(M.B. - Verão, 2013 - À pequena Bia)

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Passageiras III


As vezes, dentro do ônibus, saco da mochila um livro a apenas dois pontos para descer
leio um paragrafo, rabisco algumas palavras trêmulas resumindo o seu conteúdo no canto da página,
guardo o livro e desço do ônibus.
Só para andar nas ruas pensando no conteúdo.
As vezes, basta um paragrafo para fazer o mundo girar.
(M.B.)

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Passageiras II

Chamo de pessoas diabéticas aquelas que possuem um problema central.
Não o fato de serem proibidas de comerem doce,
mas aquelas que não gostam d'ocê.
(M.B.)

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Passageiras I

De repente deu uma vontade danada de me apaixonar, 
e não sei pq amor e paixão me lembram de uma ladeira na vila madalena
donde sempre começam os blocos de carnaval.
Vai entender...
acho que meu lado sentimental encara tudo isso como uma festa que tem começo, meio e fim.
(M.B.)

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Gênero em São Luís

Rua vinteeoito, oitavo andar
lagoa do Janser, dragão, bares, fastfoodsjaponeses
tempo nublado, abafado e maré baixa.

Daqui vejo o centro, histórico e azuleijado
Tá ai um nome com o gênero errado: azuleijo!
Azuleijo é feminino, sabemos.
As azuleijos são graciosas, coloridas, delicadas.
basta visitar São Luís
Aqui azuleijos podem ser francesas, holandesas e, por fim, brasileiras
Sim! Brasileiras da melhor qualidade.

Por tudo aquilo que o curintiano do box da cachaça de tiquira representa no pequeno mercadodocentrohistorico:
Esta é uma cidade estranha a estranhos.
Que só deixa-se tocar por conhecidos.
(M.B. - São Luís, outono de 2012)

domingo, 29 de janeiro de 2012

Samba à Paulista

Donde vem a vaidade do samba
da ideia do malandro
de quem pode fazer carnaval?

Sou da cidade que não pára
séria e rígida
em fazer o tempo passar

Essa chuva não vem de São Pedro
como em todo lugar
aqui é o choro de São Paulo
da cidade que não sabe esperar

Donde viver rápido e ser apressado
é uma vontade danada
mesmo que molhada
prá ver sexta-feira

Tudo se passa
como uma espécie de choro agoniado
que vai de feriado a feriado
(M.B.)

domingo, 23 de outubro de 2011

Distante

Daqui
a voz do pastor
na esquina
disfarça o tamanho dos fiéis
inclusive
daquela velhinha de um e quarenta e seis
daquele senhor negro de cabelo branco de quase um e setenta e sete
e do seu timbre de voz que teima em xingar todo tipo de Exu e Pombagira
(MB)

Diz Tom

Prá minha Oxum
d'olhos pequenos e negros
donde há um certo vestido amarelo
com até dois dedos acima do joelho, e nada mais.
(MB)

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Laroiê

Bará ô Bébé Tiriri Lónã
Exú Tirirí Bará ô Bébé Tiriri Lónã
Exu Tirirí

Rezava um caminho
Que a lenda era tortuosa.
(MB)

domingo, 10 de outubro de 2010

Testamento

À minha pequena deixo meu caderninho,
onde anotei meus últimos poemas.
Aqueles rabiscados por grafite HB,
que de tão poroso não lhe deixará ler nenhuma frase.
Exceto aquela da última página
que hesitei em riscar.
(MB)

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Diálogo semântico

Eu estou para a minha Nêga
assim como
minhas madrugadas estão para seus cafés da manhã,
enquanto
meu medo do amor dialoga com a sua carência.
Formando um continuum que eu não quero que saia de mim, mas chega nela!
(MB)

sábado, 10 de julho de 2010

Homologia estrutural de uma certa gramática

“Quando duas vírgulas se juntam,
casando,
em oposição a outro casal,
criando um conjunto de famílias oligárquicas,
subindo na escala social,
deixam de ser vírgulas, pois
ganham o direito de transformar todo o seu conteúdo,
sendo agora
aspas”
(MB)

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Sábado com pizza!

Portanto, seguem dois orixás Prêt-à-porter
acompanhados de coca-cola e amalá até os tampos.

Ah! Vai precisar de troco senhor?
Não! Mas a traz a maquininha do cartão.
(MB)

domingo, 20 de junho de 2010

poema de poucas frases

Quando eu nasci, num hospital publico
desses que vivem com a certeza da morte
disseram: Vai, moleke! Ser cutintiano na vida.
(MB)

segunda-feira, 5 de abril de 2010

por todo lado
sinto
e esqueço!
(MB)

terça-feira, 16 de março de 2010

Lá em casa

Lá em casa:
Dois João
E um José.
Amém e Axé!

(Aruanda)

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Adorei a surpresa da Aruanda, ela sabe que eu adoro as coisas simples e geniais que ela faz...
Obrigado minha irmã!
Poema Publicado originalmente em Aru Ayê

segunda-feira, 15 de março de 2010

Toalha nova não enxuga

Blog devidamente enxugado!

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Na varanda

Sinto em movimento,
pois Exu faz fazer, sermos feito.
Entre o movimento de acordar, dormir, acordar, dormir...

Sinto a forja, o calor das brasas,
do aço contorcido pelo calor de Ogum.
Da guerra contra o mal estar, de um fim de tarde mal dormido.

Sinto, eu, bicho do mato,
incrustado em mim mesmo.
Dormindo, preso sobre bambus que destroem a pele da caça e lhe retiram a vida.

Sinto que serei curado, pelas terras férteis,
pelos fins, de pragas,
que não sabemos os meios, de omulu.

Sinto a cura da doença
através de ervas daninhas que, aos olhos verdes, são benéficas.
Ossaim de tristes cantos, nos traga seus encantos para eu voltar para o meu berço?

Sinto cobras sobre o meu corpo, chocalhos,
que me lembram ruivas tardes, tingidas de sangue.
Olhem! Um arco-iris que se forma com as sete cores, há quase sete horas, girando ao contrário, para Oxumaré e Ewá dançarem.

Sinto este arco, desde os lamaçais,
onde Nanã dorme e não deixa escapar nenhuma matéria prima,
até a minha rede, onde descanso sonhando com coisas do cotidiano. Xirê!

Sinto gotas de chuva,
doces, frias e arredondadas. Perfeitas!
Formando um espelho, onde se vê oxum correr em forma de rio.

Sinto fome neste fim de tarde.
Cara Obá, nos traga o que comer! Minha cabeça pede...
Vista seu avental vermelho e não olhe para trás, pois seu passado é feio como sua face.

Sinto chuva forte, já lhe disse?
Você deve ter escutado...
São os trovões, os gemidos de Oyá com ciúmes de Xangô.

Mentira!
Pois você dorme profundamente.
Duvido que sonhe, acorde ou sinta sua respiração: todos fortes!

Sua cabeça, sobre o meu peito,
me deixa sentir seus dois pulmões.
Exalando o ar da vida que Oxalá teve o prazer de assoprar, na gênese.
(MB)

domingo, 15 de novembro de 2009

Encontro

"Nas comunidades africanas, nos terreiros as pessoas se reencontram com a real medida de suas potencialidades e tem aí a oportunidade de desenvolver-se em plenitude".

(Pierre Fatumbi Verger em "Notas Sobre o Culto aos Orixás e Voduns")

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

À fartura

Notava certa leveza
no seu caminhar
e de tão teimoso
era filho de Osóòsi.
(MB)

domingo, 18 de outubro de 2009

Festa do Ipeté

Mesmo distante de suas raízes que lhe fizeram sair da situação de botão
a flor resiste, viva, dentro do jarro, desde que a água seja limpa.

De pouco a pouco cada átomo de oxigênio é sugado pelo caule.
Devagar, as cores, o aroma e a vida,
persistentes, acabam.

Murchando, o belo fica feio (Ijimu!)
cabendo à água se deixar apodrecer.
Exceto, se lhe trazem novos ares
ou se o jarro é o rio.

E não é esta a história que contamos de Oxum?
Ora iê iê ô!
(MB)

domingo, 27 de setembro de 2009

Primavera Paulistana

Tenho estudado os corpos que atravessam as ruas, em câmera lenta, cada qual com sua sinuosidade.

Jovens desligados na multidão, suas mochilas, no walkman ou em grupos.

Homens com seus ternos e gravatas, apressados, de cinza ou preto, iguaiszinhos aos prédios e entre si.

Mulheres de vestidos. Tão suaves e finos tecidos, tão cheios de cores. Quando sobre o corpos nos permitem ver face, colo, braços e pernas, deixando seus quadris a nossa imaginação. Pernas brancas, negras, mulatas, nenhuma bronzeada, condenadas e presas por cerca de cinco meses dentro de calças e meia calças pelo inverno. Toda uma forma de indicar que o corpo quer respirar e, sem quererem, trazem consigo a primavera para São Paulo.

O corpo feminino é o nosso mais fiel calendário,
todos os outros se repetem mês após mês.
(MB)

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Pisando em ovos

Silêncio...

Me movo,
barulho.

De novo,
silêncio.

NADA,
às claras...
(MB)
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"Um passo à frente e você não está mais no mesmo lugar"
(Chico Science)

domingo, 23 de agosto de 2009

Iabás

Já tentei por
cheiros,
ouvidos, mas
agora sou somente olhos.

De longe sei
se combina
com meu santo:
Se formamos um belo casal
ou se teremos sucesso no orgasmo.

Essa forma de
pensar diferente
infecta, e
me deixa louco
para ver o mundo
com novos olhos: Fechados e rodando.
(MB)

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

À fertilidade das terras e da saúde

Discreto,
Fazi´arte para se distrair
Vivia entre palhas
Era filho de Omolu
(MB)

A scientia explica

Dona Maria Rezadeira
curava tudo,
era dor de dente,
unha encravada
e inchasso de borrachudo.

Certo dia, Vó Maria,
saiu do seu barraco
pegar arruda,
erva de cheiro
e jaborandi-do-mato.

Escorregou, bateu a cabeça e morreu de traumatismo craniano!
(MB)

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Quartinhas

Todo início
tem quartinha.
Seja cordel
ou candomblé.
(MB)

terça-feira, 2 de junho de 2009

Na esquina fez-se EXU!!!!

No Brasil, o marxismo adquiriu uma forma difusa, volatizada, atmosférica. É-se marxista sem estudar, sem pensar, sem ler, sem escrever, apenas respirando.

Hoje, o sujeito prefere que lhe xinguem a mãe e não o chamem de reacionário.

Hoje, o não-marxista sente-se marginalizado, uma espécie de leproso político, ideológico, cultural etc etc. Só um herói, ou um santo, ou um louco, ousaria confessar publicamente: — "Meus senhores e minhas senhoras, eu não sou marxista, nunca fui marxista. E mais: — considero os marxistas de minhas relações uns débeis mentais de babar na gravata".

Em muitos casos, a raiva contra o subdesenvolvimento é profissional. Uns morrem de fome, outros vivem dela, com generosa abundância.
Nelson Rodrigues

quinta-feira, 16 de abril de 2009

São, São Paulo

As paisagens paulistanas teimam em serem reconstruídas a cada momento como bem notou Lévi-Strauss ao ver na São Paulo uma cidade que nunca termina, sempre está em reconstrução.

Podemos fazer um paralelo desta transitoriedade com a concepção do fazer Graffiti. Grafiteiro sabe que sua “obra de arte” é transitória, efêmera e por si mesma com validade, a qual depois de um tempo ficará suja, por vezes recortada e por fim substituída no intensivo uso e desfruto das paisagens urbanas.

O grafiteiro dando seus rolês é escolhido pela paisagem para imprimir sobre ela seu trabalho. A cidade é seu ateliê e o público é parte de sua obra, seu espectador e seus criticos por excelência.


Na plataforma, sentido Luz, dentro da estação Lapa de trem uma mulher negra que provavelmente vai ao trabalho espera com angustia o trem que demora de 15 a 30 minutos, seu lanche ainda está morno e sua degustação é acompanhada por pequenos olhares atentos ao trem que parece demorar para chegar. A segunda é uma mãe zelosa que cuida de seu pequeno, pronto para o conjunto de aulas. Ambos não estão sozinhos pois o homem-cabeça-de-arvore assume o caráter de pai-projenitor-e-resgualdador-da-moral-e-da-familia atrás de sua esposa e filho, bem ali chumbado na parede por um artista plástico periferico. Ao fundo uma cena erótica, uma “senhorita” ruiva excitante a evidenciar sua beleza lombar para a metrópole as escuras. Esta paisagem não seria perfeita se todos não estivessem escutando a música de uma radiola antiga que provavelmente toca um vinil em inglês. Eu tocaria B. B. KING.

Planos globais e locais se confundem, o antigo e o novo coexistem de forma harmônica compondo uma beleza particular como o mesmo Lévi-Strauss apontou na São Paulo da década de 1930.

Com os extremos em Cástor e noutro Pólux, uma das multifacialidades da metrópole está aqui retratada, congelada e chorando – de alegria ou dor? - sobre o guarda chuva que simboliza a antiga terra da garoa.

Sendo território de tráfego, vivência e concepções tais paisagens operam como lugar, não-lugar ou espaço, oferecendo ao leitor da metrópole vida metamorfoseada em ódio, amor, angústia, esperança e tantos outros sentimentos que fluem por suas ruas, casas, estações e pontos de ônibus, enfim o cotidiano responsável por nossas impressões seletivas, de sua existência e dos próprios movimentos da metrópole.

Assim como foi empurrado o ANGELUS NOVUS da concepção de história em Walter Benjamin, algo nos dá esperança e nos empurra para frente tendo as mesmas características do zodiaco de Cástor e Pólux : A adaptabilidade e a versatilidade.

Agradecimentos:

Fotografia de Altocontraste (Casal Lygia e Lúcio) todos os direitos reservado aos autores desta obra prima. A fotografia está aqui por contrabando e gostaria da permissão destes dois que por hora está sendo impossível.

Graffiti de OZi - um dos melhores no assunto aqui em sampa – na estção de Trem Lapa. Mais deste gênio e dinossauro das tintas em: http://www.flickr.com/photos/graffitivivo/

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Vegetariando

Engordai com ideologias os bovinos
para na laje do puchadinho
sede do partido
termos um bom churrasco

sábado, 21 de março de 2009

Piazzas

Você tem a sensação de ser perseguido pelo destino?

Você já aprendeu algo ou começou a gostar e PÁ!!! Eis que surge aquilo novamente na sua frente em um outro lugar, com outras pessoas, num outro contexto.

Roberto Piva vem me perseguindo e surgiu desta vez nos braços de Raquel, minha irmãzinha ruiva que corta seu próprio cabelo.

"Oswald Spengler tem uma
porta no seu tornozelo
& nuvens através dele
limpando a pele
que projeta
um velho cachecol marrom
em seu olho
eu penso
pelos seus
líquidos compassos de sátiro
até
um cenário de músculos
impedido de esmagar
o carvão de
vidro
verde
que aquece
a estrela nua de
anteontem
Oswald Spengler tem uma porta no seu tornozelo
batendo
até
altas horas" (Piazzas, 1964)


Raquel! este é o poema que eu não lembrava.
Eis que surge aqui para vc.

Só Nelson

"Mas escuta: Eu estava no quarto com uma mulher e, nisso, chega o marido com a polícia. Em conclusão, arrombaram a porta. A mulher, nuazinha, negou até o fim. Sabe que o marido ficou na dúvida, o comissário ficou na dúvida e até eu fiquei na dúvida? Meu anjo, da próxima vez, nega, o golpe é negar!"

quarta-feira, 18 de março de 2009

Ibid Idem

Antes mesmo de ser xingado pela vizinhança e logo após reunir muitos trambolhos e cacarecos, durante os seus duvidosos 82 anos, o velho relega a família a culpa de sua dengue hemorrágica.