quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Na varanda

Sinto em movimento,
pois Exu faz fazer, sermos feito.
Entre o movimento de acordar, dormir, acordar, dormir...

Sinto a forja, o calor das brasas,
do aço contorcido pelo calor de Ogum.
Da guerra contra o mal estar, de um fim de tarde mal dormido.

Sinto, eu, bicho do mato,
incrustado em mim mesmo.
Dormindo, preso sobre bambus que destroem a pele da caça e lhe retiram a vida.

Sinto que serei curado, pelas terras férteis,
pelos fins, de pragas,
que não sabemos os meios, de omulu.

Sinto a cura da doença
através de ervas daninhas que, aos olhos verdes, são benéficas.
Ossaim de tristes cantos, nos traga seus encantos para eu voltar para o meu berço?

Sinto cobras sobre o meu corpo, chocalhos,
que me lembram ruivas tardes, tingidas de sangue.
Olhem! Um arco-iris que se forma com as sete cores, há quase sete horas, girando ao contrário, para Oxumaré e Ewá dançarem.

Sinto este arco, desde os lamaçais,
onde Nanã dorme e não deixa escapar nenhuma matéria prima,
até a minha rede, onde descanso sonhando com coisas do cotidiano. Xirê!

Sinto gotas de chuva,
doces, frias e arredondadas. Perfeitas!
Formando um espelho, onde se vê oxum correr em forma de rio.

Sinto fome neste fim de tarde.
Cara Obá, nos traga o que comer! Minha cabeça pede...
Vista seu avental vermelho e não olhe para trás, pois seu passado é feio como sua face.

Sinto chuva forte, já lhe disse?
Você deve ter escutado...
São os trovões, os gemidos de Oyá com ciúmes de Xangô.

Mentira!
Pois você dorme profundamente.
Duvido que sonhe, acorde ou sinta sua respiração: todos fortes!

Sua cabeça, sobre o meu peito,
me deixa sentir seus dois pulmões.
Exalando o ar da vida que Oxalá teve o prazer de assoprar, na gênese.
(MB)